No passado 29 de outubro, no âmbito das atividades de comunicação e transferência do projeto BlueWWater, realizou-se no auditório do CETMAR (Vigo) o workshop “Inovação e cooperação face aos contaminantes emergentes: da deteção à ação para uma gestão sustentável da água”.
O encontro reuniu cerca de 60 participantes dos setores público e privado: representantes de administrações públicas, entidades responsáveis pelo controlo e gestão da qualidade da água, laboratórios, empresas de tratamento, companhias tecnológicas, centros de investigação, universidades e centros tecnológicos. Muitos deles são membros da Rede NOR-WATER, uma rede colaborativa dedicada à deteção e tratamento de contaminantes emergentes nas águas da Galiza e de Portugal, que já conta com mais de 70 entidades associadas.
O workshop serviu como espaço de intercâmbio de conhecimentos e experiências, permitindo apresentar os principais resultados do projeto BlueWWater e debater os desafios atuais do setor da água relacionados com os contaminantes emergentes.
Sessão de abertura
A jornada foi inaugurada por Rosa Chapela, diretora do CETMAR, e Pablo Otero, diretor do Centro Oceanográfico de Vigo do Instituto Espanhol de Oceanografia (IEO, CSIC), que deram as boas-vindas aos participantes e apresentaram o enquadramento científico e institucional do evento.

Fig. 1. Rosa Chapela e Pablo Otero inaugurando o evento.
Em seguida, Marisa Fernández (CETMAR) apresentou os objetivos e as principais atividades do projeto BlueWWater, destacando a relevância e o potencial do consórcio de cooperação transfronteiriça que tornou possível a organização deste encontro.

Fig. 2. Marisa Fernández apresentando o projeto BlueWWater aos participantes.
Bloco 1. Contexto e enquadramento regulamentar
Para abrir o bloco de apresentações sobre contexto e enquadramento regulamentar, Rosario Rodil (USC) iniciou com uma revisão do estado atual dos contaminantes emergentes de preocupação no meio aquático. Sublinhou a necessidade de reforçar a vigilância sobre novos compostos, cujo impacto na saúde humana e no meio marinho ainda não é totalmente conhecido.

Fig. 3. Rosario Rodil apresentando a revisão do estado dos contaminantes emergentes no meio aquático.
De seguida, Laura Díaz (Labaqua) apresentou um estudo realizado em vários hospitais de Madrid sobre a presença e o potencial impacto dos fármacos nas águas residuais hospitalares, salientando a necessidade de considerar pré-tratamentos específicos antes do seu descarte no sistema público.

Fig. 4. Laura Díaz (Labaqua) apresentando o seu estudo sobre fármacos em águas residuais de hospitais de Madrid.
Bloco 2. Deteção e monitorização
A sessão prosseguiu com a primeira apresentação deste bloco, a cargo de Teresa Neuparth (CIIMAR), que abordou o uso de ferramentas ecotoxicológicas para avaliar o risco dos contaminantes emergentes. Descreveu os diferentes níveis de análise — desde os ensaios in vitro até à integração de dados ecológicos e hidrodinâmicos em modelos de previsão ambiental.
Fig. 5. Teresa Neuparth mostrando resultados sobre efeitos endócrinos em peixes-zebra.
De seguida, Isabel Iglesias e Miguel Santos (CIIMAR e Faculdade de Ciências da Universidade do Porto) apresentaram a aplicação de modelos hidrodinâmicos, lagrangeanos e ecológicos na avaliação do impacto ambiental. Iglesias explicou como os modelos são preparados e validados através de amostragens de campo, enquanto Santos destacou a importância de integrar dados ecológicos, experimentais e hidrodinâmicos para compreender as pressões sobre os ecossistemas.

Fig. 6. Isabel Iglesias e Miguel Santos durante as suas intervenções sobre os diferentes modelos usados na avaliação do impacto ambiental.
O bloco terminou com uma mesa-redonda moderada por Juan Bellas (Centro Oceanográfico de Vigo), que proporcionou um espaço de intercâmbio e reflexão entre os oradores, que partilharam as suas perspetivas e responderam às perguntas dos participantes.

Fig. 7. Mesa-redonda com Laura Díaz, Isabel Iglesias, Teresa Neuparth, Miguel Santos, Rosario Rodil e Juan Bellas.
Bloco 3. Tratamentos avançados
Após a pausa para café, o bloco de tratamentos foi inaugurado por Ana Isabel Gomes (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), que apresentou as tecnologias avançadas para a remoção de microcontaminantes em águas residuais urbanas. Explicou as diferenças entre tratamentos físicos e químicos, destacando os tratamentos quaternários, elemento-chave na nova Diretiva de Águas Residuais Urbanas (DARU). Salientou também que a retenção dos contaminantes não implica a sua eliminação total, já que o tratamento dos subprodutos continua a ser um desafio.

Fig. 8. Ana Isabel Gomes apresentando dados sobre contaminantes, fármacos e aditivos plásticos mais comuns nas amostras das ETAR participantes no projeto BlueWWater.
De seguida, Hugo Quintana (CETAQUA) expôs as adaptações das ETAR à nova diretiva DARU e as tecnologias que estão a ser implementadas, como a SeMPAC (biorreator com membrana e carvão ativado). Apresentou também experiências-piloto de reutilização de águas residuais para rega de zonas verdes e combate a incêndios.
Fig. 9. Hugo Quintana durante a sua intervenção.
Bloco 4. Cooperação, gestão e divulgação
O último bloco, dedicado à cooperação, gestão e divulgação, começou com a apresentação de Olga Carretero (CETMAR), que apresentou a Rede NOR-WATER, uma plataforma de colaboração público-privada e multidisciplinar criada no âmbito do projeto NOR-WATER, precursor do BlueWWater. Olga destacou o seu papel como elo de ligação entre instituições, investigadores, empresas e operadores envolvidos na gestão da qualidade da água e no controlo dos contaminantes emergentes.

Fig. 10. Olga Carretero apresentando a Rede NOR-WATER.
Seguidamente, Anxo Mena (CETMAR), em representação da Plataforma Tecnológica PROTECMA, destacou o seu papel como ferramenta de divulgação de resultados e de ligação com os utilizadores finais — gestores de estações de tratamento, administrações, empresas e cidadãos. Sublinhou ainda o valor destas plataformas como motores de colaboração público-privada na prevenção e gestão de riscos ambientais.

Fig. 11. Anxo Mena apresentando a plataforma PROTECMA.
A última intervenção esteve a cargo de Uxía Tenreiro (Centro Oceanográfico de Vigo), técnica de comunicação e divulgação, que refletiu sobre como comunicar ciência sem alarmar nem simplificar em excesso, apresentando estratégias e temas-chave para aproximar os resultados científicos da sociedade de forma clara, rigorosa e apelativa.

Fig. 12. Uxía Tenreiro sobre a comunicação dos resultados científicos.
A jornada terminou com uma segunda mesa-redonda, novamente moderada por Juan Bellas (Centro Oceanográfico de Vigo), que promoveu o debate e a participação ativa. Os oradores deste último bloco partilharam as suas reflexões e responderam às perguntas do público antes do encerramento do evento.

Fig. 13. Segunda mesa-redonda: Ana Isabel Gomes, Olga Carretero, Hugo Quintana, Uxía Tenreiro, Anxo Mena e Juan Bellas.
As mesas-redondas evidenciaram a necessidade de avançar para uma gestão mais integrada e coordenada dos contaminantes emergentes, reforçando a colaboração entre investigação, regulamentação e gestão. Foi destacada a importância de harmonizar os enquadramentos normativos, melhorar a monitorização e avaliação do risco ambiental, e promover o desenvolvimento e aplicação de tecnologias eficazes de tratamento.
Sublinhou-se ainda o valor da cooperação transfronteiriça e da divulgação científica como ferramentas fundamentais para aproximar a ciência da sociedade e promover práticas sustentáveis no uso e gestão da água.
As apresentações utilizadas durante o workshop estão disponíveis para consulta:
- O projeto BlueWWater. Marisa Fernández – CETMAR
- Situação atual dos contaminantes de preocupação emergente no meio aquático. Rosario Rodil – USC
- Contaminantes emergentes no meio ambiente: contexto, legislação e aplicações ambientais. Laura Díaz – Labaqua
- Ferramentas e metodologias ecotoxicológicas para a avaliação do impacto de contaminantes emergentes. Teresa Neuparth – CIIMAR
- Da monitorização e dos modelos numéricos à avaliação do risco ambiental: integração de processos hidrodinâmicos e ecológicos. Isabel Iglesias – CIIMAR / Miguel Santos – FCUP
- Tecnologias avançadas para a eliminação de micropoluentes em águas residuais urbanas. Ana Isabel Gomes – FEUP
- Adaptação à nova normativa e exemplos de eliminação de contaminantes emergentes. Hugo Quintana – CETAQUA
- Rede NOR-WATER e cooperação transfronteiriça: impulsionando a gestão sustentável da água. Olga Carretero – CETMAR
- A Plataforma Tecnológica PROTECMA. Anxo Mena – CETMAR
- Da ciência à sociedade: educação ambiental, sensibilização e mudança de hábitos. Uxía Tenreiro – IEO-CSIC